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Violência nossa de cada dia

O recente episódio na creche de Blumenau nos convida a refletir sobre a violência e suas múltiplas causas.

Quem não terá se indagado por que o homem, este ser que se coloca no topo da escala zoológica, mata pelo prazer de matar enquanto todos os demais seres do reino animal só o fazem por razões de sobrevivência?

Poderíamos continuar nos indagando: por que o prazer de matar? E aí a investigação nos levaria a territórios ainda não totalmente explorados da mente humana, cujos mistérios apenas começam a ser desvendados.

Todas as alternativas consideradas contemporaneamente para mitigar a violência padecem de vícios de origem. Assim ocorre com o paradoxo das medidas repressivas, a ingenuidade das propostas pedagógicas ou o reducionismo das soluções inspiradas nos cânones psicológicos ou sociológicos.

 Os órgãos encarregados da segurança pública adotam uma práxis paradoxal, que visa eliminar o problema da violência recorrendo a medidas repressivas. E sabemos que violência gera como reação mais violência.

Por outro lado, há uma vertente pedagógica que incide na aludida ingenuidade de supor-se que a violência possa ser erradicada através de “mais” e “melhor” educação.

E ainda há os que incorrem no reducionismo psicologista que entende ser a violência função exclusiva de transtornos mentais e, portanto, para mitigá-la só através do vértice psicoterápico, ou então no reducionismo sociológico, que se embasa na afirmação truísta de que, sem eliminarmos a miséria social, jamais resolveremos o problema da violência.

Ao ser entrevistado no “corredor da morte”, um condenado à cadeira elétrica nos EEUU indagava do entrevistador por quantos milhares ou milhões de espectadores ele seria visto, como a identificar que sua motivação maior no exercício da criminalidade era conseguir uma imagem pública tão notória quanto a daqueles cujos talentos de exceção os leva a figurar em grande destaque na mídia.

E aí é onde entra a possível ação da mídia no incentivo à violência e a criminalidade, na medida em que oferecem a esses indivíduos a via para alcançarem a celebridade que buscam e que não obteriam se não lhes fosse facultada pelo destaque que merecem na mídia.

Louve-se, portanto, a iniciativa da Globo em não alimentar a notoriedade dos criminosos deixando de mencionar seus nomes e publicar suas fotos por ocasião de massacres como o ocorrido na creche de Blumenau.

Luiz Carlos Osorio
Médico, terapeuta de famílias, consultor de sistemas humanos
osorio@osoriogruppos.com.br