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Crise: Um conceito equivocado?

Crise tem sido considerada uma expressão com conotação negativa, sinônimo de catástrofe iminente. No entanto podemos dizer que as crises assinalam a mutação necessária – diria até indispensável – ao desenvolvimento tanto dos indivíduos como de suas instituições. As crises ensejam o acúmulo de experiência e uma melhor definição de objetivos.

A expressão crise origina-se do grego krisis, que significa ato ou faculdade de distinguir, escolher, decidir e / ou resolver. No idioma chinês a palavra crise é representada por dois ideogramas aparentemente contraditórios, um dos quais significa “perigo” e o outro “oportunidade”, como a sinalizar que tanto podemos ficar “paralisados” pela ameaça como “ativados” pela necessidade de enfrentá-la. Sem as crises ficaríamos imobilizados, em permanente estado de indecisão, sem juízo crítico nem aptidão para promover mudanças e ensejar o progresso.

Crise tornou-se um lugar comum em nossos dias. Fala-se em crise econômica, ética, política, religiosa, do casamento ou da família, com tamanha insistência e reiteração que o termo já não mais se reserva para assinalar algum momento ou circunstância de exceção, mas é utilizado para sinalizar uma condição permanente ou um estado de crônica insatisfação à espera de certa providência que, ao chegar, restabelecerá a situação anterior de suposto equilíbrio e bem-estar ou nos remeterá à possibilidade futura de solução definitiva de um mal-estar pessoal ou social que nos aflige. Desta maneira, nossa vida transcorre na vigência de uma crise insolúvel e perene a rondar todos os setores de nossas circunstâncias.

Mas, voltando à idéia de que crise é um conceito equivocado quando carrega (só) a conotação de algo negativo. As crises, quer nos indivíduos como nas instituições, devem proporcionar um salto evolutivo para um nível mais satisfatório de realização de seus potenciais. Mas, nem sempre o fazem, daí esta tendência a conotar crise com fracasso, com não alcançar objetivos, com ameaça da instalação de um estado caótico ou catastrófico.  A crise pode sinalizar a iminência de um desastre quando não carrega em seu âmago a necessária motivação de quem a experimenta para o processo de mudança que ela enseja e disponibiliza.

Assim, façamos das crises “possibilidades”, não “ameaças”.

Luiz Carlos Osorio
Psicanalista e consultor de sistemas humanos
osorio@osoriogruppos.com.br