Skip to content Skip to sidebar Skip to footer

Um só povo planetário

A recente crise internacional em torno às pretensões russas de reintegrar a Ucrânia ao que um dia foi a URSS me trouxe uma reflexão inspirada na afirmação de Bertrand Russell, famoso filósofo e pacifista britânico, que dizia ser “o patriotismo a disposição de eliminarmos os inimigos de nossa pátria”, lamentando que o amor pela pátria alimentava o ódio entre os humanos.

Um só povo planetário seria preciso para abolir a ideia de pátria ou nação e exterminar as lutas fratricidas que infernizam a humanidade. E o caminho seria a miscigenação, que torna iguais os dessemelhantes quanto a raças, etnias ou culturas.

Samuel Johnson, um dos maiores literatos ingleses, disse em 1775 que “patriotismo é o último refúgio do canalha”. Como referiu seu biógrafo James Boswell (1791), Johnson não se referia aqui ao “amor real e generoso” pela pátria, mas ao “pretenso patriotismo que tantos, em todas as épocas e países, têm usado para os próprios interesses”. Acrescenta Johnson: “quando confrontados, canalhas podem demonstrar um devotamento patriótico a fim de explorar esse sentimento e, por meio dele, avançar seus interesses e proteger-se aos olhos do público”. Enfim, manipular o conceito com escusas intenções.

Igualmente, o patriotismo na concepção denunciada por Johnson contribui para a autojustificativa de tiranos, ditadores e seus simpatizantes.

O Estado, que nasceu com o propósito manifesto de gerir a “res publica”, sempre esteve vocacionado para o exercício da dominação de uns poucos sobre muitos e em proveito dessa minoria que detém o poder. Desde a mais remota antiguidade, seja qual for a ideologia que o inspire ou o regime que o sustente, o Estado tem se caracterizado pelo estabelecimento de oligarquias privilegiadas e de maiorias exploradas, negligenciadas ou, quando menos, colocadas a serviço dos interesses de quem está no poder. E tudo em nome do patriotismo, com que os líderes cooptam os indivíduos de um país e incentivam a hostilidade entre as nações.

O gradativo aprendizado das práticas solidárias nas cooperativas das pequenas comunidades interioranas são o embrião para que se privilegie a cooperação em detrimento da competição nas interações humanas. Ações solidárias são indispensáveis. Elas é que podem mudar o mundo. Como o beija-flor da fábula carregando no bico a gota d’água para apagar o incêndio da floresta, façamos a nossa parte.